Apresentação em Pista – Melhorando a performance

     Já não é mais novidade que o nível dos animais apresentados hoje, nas pistas de julgamento, é altamente competitivo. Disputas acirradas confirmam a qualidade alcançada na raça, pelo trabalho árduo de seleção dos criadores e pelo profissionalismo dos tratadores.     
     Como dois ou mais animais não podem ocupar a mesma colocação em um julgamento, o que seria até viável tecnicamente, o resultado se dá, muitas vezes, pelos detalhes na apresentação de cada indivíduo.   
     Enquanto não valorizamos devidamente as provas de função na raça (como acontece com outras que disputam vorazmente nosso mercado), continuam como objetivo maior os títulos disputados em julgamentos de marcha e morfologia.
     No intuito de trazer aos criadores / expositores melhores condições de atingirem seus objetivos, relacionamos aqui algumas dicas que podem ser cruciais na decisão de algum campeonato:
     Julgamento de marcha até 36 meses – não só para que sejam apresentados em melhores condições, mas também para se acatar o que determina o regulamento, os animais devem ser apresentados com uma folga na guia do cabresto. Esta orientação permite maior liberdade ao animal, que passa a mobilizar seu pescoço, estabelecendo assim maior equilíbrio e naturalidade em seu andamento.  Apresentado tendo a mão do apresentador junto às ganachas, o animal é literalmente puxado, o que causa um posicionamento indevido da cabeça e do pescoço. Este comportamento indevido causa também uma dependência do apresentador, que cria o hábito de se apoiar no animal. Desta forma, quando tropeça ou mesmo quando tem uma passada mais curta que a do potro, o apresentador transfere a este seu próprio peso, interferindo negativamente em todos os itens avaliados neste julgamento, pela falta de liberdade e naturalidade do animal. Por sua vez, as alterações provocadas a partir daquele posicionamento indevido da mão na guia, entendidas como favoráveis, poderão mascarar limitações que mais tarde irão se manifestar, quando dos animais montados. É sem dúvida um dos motivos pelos quais não se confirmam bons resultados obtidos por alguns potros, posteriormente julgados montados. Estas interferências tidas como positivas, por favorecerem momentaneamente a apresentação de um animal, são causa da manutenção de genes indesejáveis nos rebanhos mantidos apenas na busca do resultado imediato da premiação. 
     Os animais devem ser condicionados a se apresentar para qualquer dos lados, mesmo porque serão assim exercitados de forma simétrica. O treinamento deve ainda condicionar o animal a se apresentar atrás ou à frente de outros, como irá acontecer na pista. Em situações de apresentação simultânea entre dois ou mais animais, o apresentador não deverá tentar ultrapassar seu concorrente. Esta manobra é notada com frequência, quase sempre com prejuízo do ritmo e da regularidade do animal em questão.
     Quando da apresentação em linha reta, para avaliação dos aprumos, o apresentador deverá procurar um ponto fixo como referência, e seguir no sentido daquele ponto, evitando assim uma trajetória sinuosa. Ao retornar ao ponto de origem, o apresentador deve seguir em direção ao árbitro, também em linha reta. Conduzido desta forma o animal não apresentará alterações geradas por desvio da trajetória, restando a ele apenas as penalizações referentes a desvios reais de aprumos, quando existirem. Esta recomendação é válida também quando da apresentação ao passo, em linha reta, para avaliação dos aprumos no julgamento de morfologia.
     Julgamento de marcha acima de 36 meses – nos concursos de marcha ainda é comum se observar apresentações em alta velocidade, o que descaracteriza o andamento natural, além de tornar a prova um tanto estressante para o animal. O alto nível de qualidade nas pistas tem trazido dificuldade aos árbitros, que por vezes necessitam de um tempo um pouco maior para seus julgamentos, sendo importante poupar os animais durante a prova. Também nos julgamentos montados a ultrapassagem forçada deve ser evitada, sob pena de se prejudicar a performance de cada indivíduo, que não terá nada acrescido à sua avaliação, simplesmente por estar à frente ou atrás de outro concorrente. A fase da Marcha Livre tem trazido um forte parâmetro de avaliação. É imprescindível que os animais sejam condicionados devidamente, para uma apresentação sem nenhum contato da mão do cavaleiro com a boca do cavalo. Ritmo e frequência deverão ser baixos, para que a dissociação se manifeste de forma natural, sem pressões ou quaisquer outras interferências que mascarem sua naturalidade.
     Julgamento de morfologia para qualquer idade – também na morfologia a folga na guia do cabresto deve ser mantida. É desejável que o animal promova, ao passo, um movimento de báscula com o pescoço, o que irá favorecer seu equilíbrio e permitir uma passada ampla, com mobilização de toda a coluna vertebral. Mantido com a cabeça elevada, com a mão do apresentador em suas ganachas, como por vezes acontece, o animal tem comprometida a sua dinâmica. Fica sobrecarregado em seu posterior, que trabalha contido, limitado. 
     Durante a avaliação detalhada, quando o árbitro se aproxima do animal pela frente, é comum alguns apresentadores se perderem, na tentativa de “arrumar” os posteriores. Neste momento é importante sim que os anteriores estejam alinhados, ficando os posteriores para o momento em que o árbitro os avaliar por trás. O que ocorre com frequência é vermos o animal desalinhar os anteriores, quando da tentativa de seu apresentador em corrigir o alinhamento dos posteriores.
     Ainda na fase final do julgamento de morfologia, o corpo a corpo, quando os animais são alinhados em fila indiana, algumas atitudes podem melhorar uma apresentação. É imprescindível um bom espaçamento entre cada animal, principalmente quando o árbitro determina uma alteração na ordem dos concorrentes. É muito comum, após uma mudança de posição, que um deles fique espremido entre os outros, impedindo assim uma boa apresentação. É hora de o apresentador cobrar dos colegas o seu espaço, o que será de pronto apoiado pelo árbitro, que procura também a melhor condição para realizar seu julgamento. O fato de alguns animais serem apresentados acampados ou sobre si, sem que na verdade o sejam, é ocorrência frequente. É importante que o apresentador tenha noção de como seu animal se posiciona corretamente, criando para si parâmetros para esta definição.
     Julgamento de morfologia acima de 36 meses – prova da ação – ainda são observadas muitas incorreções nas apresentações dos animais neste julgamento. É preciso que se saiba, inicialmente, que o quadrado demarcado pelos cones que indicam seus cantos deve ser considerado limite mínimo, dentro do qual o animal não deverá entrar. A pista percorrida pelo cavalo deverá, no entanto, ser redonda, podendo ainda ter um traçado aberto e não necessariamente fechado, tangenciando os cones. Os apresentadores têm a tendência de fechar excessivamente a curva, dificultando bastante a performance de seus animais. Saibam, portanto, que quanto mais aberta a curva, mais fácil de se realizar as figuras. A pista deverá ser sempre à mão esquerda. É ideal que o animal apresente um passo descontraído, equilibrado, elástico, ritmado, com movimento de báscula do pescoço, preferencialmente com ocorrência de ultra pegada. Animais não condicionados ao passo tendem a se precipitar, passando do passo à marcha sem o comando do cavaleiro. Estes animais precisam ser contidos pelo cabresto, o que limita o movimento desejável de báscula, e consequentemente toda a sua desenvoltura no passo. Tem-se observado que o movimento de báscula nos animais marchadores é ligeiramente mais discreto que nos cavalos de trote. 
     Na prova Campolina em Ação, além de uma marcha com todas as características desejáveis já conhecidas, o animal deverá apresentar um galope reunido, ritmado, equilibrado, com bom flexionamento da nuca, boa impulsão, ao pé esquerdo. Isto significa que, ao galope, o animal deverá manter posterior e anterior esquerdo à frente do direito. É importante ainda que não esboce reações, e que a partida ao galope aconteça no ponto determinado, e no momento do comando do cavaleiro. As transições entre cada andamento (passo, marcha, galope, marcha, passo) deverão ser precisas, porém, suaves.
     Por fim, para toda e qualquer apresentação em julgamentos, quer sejam de marcha ou morfologia, montados ou desmontados, é importante que o apresentador crie o hábito de observar os animais com os quais trabalha. Apresentados por outro colega, simulando as diversas fases de julgamento, os animais poderão ser avaliados em suas limitações e características. Observando do mesmo ângulo do árbitro, o apresentador poderá promover ajustes necessários à melhor performance em pista, exaltando as qualidades e evitando a sugestão de defeitos não existentes. Estas observações deixam de ser meros detalhes, tornando-se, juntas, fatores decisivos nas acirradas disputas pelos títulos cobiçados. Tudo isto enquanto não se valorizarem devidamente as provas reais de função, que deverão atestar as nobres virtudes do nosso Campolina.

     Para se refletir: quando se fala em função, pensa-se logo na marcha . . . não seriam as reais funções do cavalo de sela marchador transportar o cavaleiro em suas diversas demandas, em passeios, no trabalho, no esporte, viagens, cercando o gado, trazendo a marcha como um diferencial? E assim, porque não, atrair jovens cavaleiros, usuários, ávidos por um esporte dinâmico, vibrante, sadio, e então oferecer-lhes opções de provas as mais atraentes? Antes de ser função, não seria a marcha uma aptidão do Campolina, andamento cômodo peculiar, através do qual os cavalos marchadores cumprem com galhardia suas verdadeiras funções?   
     Este é um assunto, quem sabe, para outro artigo, ou mesmo para discutirmos juntos, no nosso próximo encontro, talvez embalado no lombo de um bom Campolina . . .